Capitulo 1 – Lembranças

26/09/2014 21:38

12 anos - 7º ano - verão

 

  Eu estava tão exausta, que assim que me deitei na minha beliche do chalé 6 eu apaguei.

  Comecei a sonhar. Eu estava em frente ao Parthenon de Atenas, que estava exatamente como eu tinha visto da última vez. Entrei; em frente à estátua de Atena havia um homem de 18 anos, com cabelo cobre e apesar de estar de costas eu sabia açor dos olhos dele, castanho puxado para o mel. Ele estava ajoelhado com as mãos apoiadas na base da espada de ferro com punho de couro, usava um chiton (túnica grega presa com broche na altura do ombro) em vermelho e branco – as cores de Esparta. Deve estar se perguntando por que um espartano pediria ajuda à Atena; ele era um estrategista e general do exercito – termo atual - (acima dele, em termos atuais, apenas o Marechal - apenas em tempos de guerra - e o Rei de Esparta); e com toda a tensão entre Atenas e Esparta ele precisava de alguém diferente do deus da guerra para dizer o que fazer.

  Ele embainhou a espada e saiu, fui atrás dele. Ao lado do Parthenon havia um pequeno jardim com lírios brancos, que tinha certeza que não estavam ali antes, no meio dele havia um único lírio vermelho e mais a frente, sentada em uma pedra, estava uma mulher com um vertido azul-celeste e branco com detalhes em dourado, seu cabelo era cacheado e caia sobre os ombros até a cintura num tom castanho-chocolate e pele bronzeada pelo sol, em seu colo havia um tear médio, o trabalho estava na metade e a rapidez com que era feito era impressionante – só se via o vulto da passadeira indo de um lado para outro.

  O homem foi até o jardim e tirou o lírio do chão com uma faca (arma 10 cm menor que uma adaga usada para afiar as pontas das canetas de pena) e então foi em direção a ela. Quando cheguei mais perto entendi porque ele parecia hipnotizado, ela irradiava poder e era extremamente bonita.

  Quando viu o trabalho no tear parou para admirá-lo, era tão perfeito que parecia real, como se pudesse atravessa-lo e pegar um lírio de tecido. Uma foto não ficaria tão perfeita.

  - É tão perfeito que parece real – disse ele

  - Obrigada – disse ela levantando o rosto e revelando os olhos amendoados e cinza tempestade.

  Mesmo contra a luz os lhos dela pareciam brilhar, como se ela pensasse em varias coisas ao mesmo tempo.

  - Lindo lírio – disse olhando para a flor – você seria?

  - Nikos – diz entregando o lírio a ela – você é daqui?

  - Sou, nasci na Macedônia, mas esta é a minha cidade há um bom tempo.

  Quase pude ouvir as engrenagens no cérebro dele se movendo, ele havia percebido que ela era Atena, a deusa de olhos brilhantes.

  Eles ficaram conversando, mas não pude ouvir, o sonho tremeluziu e cena mudou. Agora eu estava na minha casa em Esparta, do meu lado estava o mesmo homem e à minha frente estava Atena com algo nos braços enroscado em uma manta de seda com desenhos de lírios. Ela colocou delicadamente o embrulho nos braços dele, que estava com os olhos marejados. Agora eu podia ver o que havia ali, era eu com 3 meses de idade – cabelo cobre e olhos cinza-tempestade observando tudo, como se já fosse capas de entender o que estava acontecendo.

  - Não posso ficar com ela, então me prometa que vai cuidar bem dela, afinal, ela é sua filha também – disse Atena.

  - Eu sei disso Atena – deixou escapar o nome dela – não precisa nem me fazer prometer isso – disse olhando para mim (o bebê) – algumas leis são um pouco idiotas.

  Um trovão ressoou no céu.

  - Não diga isso, Zeus faz com que todos cumpram todas as leis e Temis também - disse olhando para o céu – fique com essa espada, vai precisar dela logo.

  Ela entrega uma espada de fio duplo feita de bronze celestial, na lamina estava escrito em grego: “NIKODEMOS” (NIKODEMOS) – um jogo de palavras com o nome dele significava “o poder da vitória”, ou como eu gosto de traduzir “o poder de Nikos” – ele coloca a espada na bainha vazia e quando olha para Atena, ela não estava mais lá.

  A cena mudou outra vez, agora eu estava com 6 anos. Eu usava um pingente de coruja que meu pai havia me dado no meu aniversário do ano anterior, estava sentada na cama enquanto ele arrumava as coisas para irmos embora.

  - Porque estamos indo embora papai? – perguntei

  - Já te expliquei meu lírio, homens ruins estão chegando e não posso te proteger e à nossa casa ao mesmo tempo – disse com olhar perdido – se ao menos sua mãe estivesse aqui, ela saberia o que fazer.

  - Eu pareço com ela? Por que ela nunca vem me ver?

  - Muito, até no modo de pensar, mas ela não pode vir nos ver... É complicado, um dia, quando você crescer eu te explico.

  - Para onde nós vamos?

  - Ainda não sei lírio.

  A cena mudou outra vez, agora estávamos em uma trirreme (navio grego com três fileiras de remos) indo para o leste, atracamos na costa sul da Macedônia, o lugar era lindo e quanto mais adentro nós íamos, mais nos esquecíamos do porque de estarmos ali, todas as outras pessoas que estavam ali comiam flores de lótus.

  Não sabia há quanto tempo estávamos ali, não parecia muito, mas algo estava errado. Apolo estava no meio da sua trajetória quando eu encontrei uma coruja marrom com enormes olhos verde-oliva pousada no ramo mais baixo de uma oliveira.

  Ela falava na minha cabeça: “Oi, porque está no território dos lotofagos?”.

  - Você fala?

  “só com você – disse inclinado a cabeça para o lado direito – “eu sou Nice, e você?”

  - Liliana. Como foi que chamou esse lugar?

  “território dos lotofagos.” – repetiu ela – “Aqui você esquece porque veio e o tempo passa muito devagar. Se comer aquela flor nunca mais vai querer sair! Eu posso te ajudar a sair.”.

  - Tenho que achar o meu pai.

  Assim que encontrei o meu pai saímos de lá com metade da tripulação original e seguimos para o oeste. Depois de 2 dias chegamos perto de Cila e Caribde e segundo a Nice deveríamos passar por entre eles. Depois deles fomos direto para as sereias, e toda a tripulação pulou no mar, exceto eu e meu pai (porque a Nice nos obrigou a tampar os ouvidos com cera). Algumas horas depois (com muita ajuda dos deuses do vento) atravessamos um estreito e seguimos para o norte até chegarmos a uma baia, o navio foi o mais próximo possível da praia e depois começou a afundar. Pegamos um barquinho à remo e seguimos para a costa. Quando saímos do barco meu pai segurava um arco e tinha uma algiva nas costas com algumas flexas.

  O sol estava bem alto, deviam ser meio-dia quando chegamos a uma parte entre uma colina e uma estrada, onde havia um homem com uma camisa roxa e calça jeans – o que na época eu achei muito estranho – ele segurava uma espada de ouro.

  “a entrada é pela colina” – disse a Nice no meu ombro.

  Quando o homem na estrada nos viu avançou na minha direção, instintivamente meu pai me entregou o arco, tirou a algiva das costas deixando-a cair no chão e desembainhou a espada. Eles começaram a Lutar e a Nice ficava dizendo na minha cabeça: “Isso não é bom, nada bom, ele não deveria estar aqui” – dizia – “gregos e romanos são inimigos desde antes da invasão da Grécia,... Morte, morte”. E foi quando meu pai foi acertado na perna e caiu, o romano avançou para ele, mas eu consegui usar o arco maior do que eu, a flexa acertou o coração dele, que caiu de lado cuspindo sangue. Fui até o meu pai e peguei uma dracma de prata que eu carregava em uma bolsa de seda presa ao cindo do meu chiton. Coloquei a dracma da mão dele.

  - Tem uma coisa sobre a sua mãe que... – sua vos falhou.

  - Eu sei que ela é Atena papai, afinal, de que outra maneira eu falaria com uma coruja?

  - Tenho muito orgulho de você meu lírio – sua voz estava fraca – quero que fique com a espada, um dia vai usa-la melhor do que eu.

  - Vou ficar bem papai – disse com lagrimas rolando pelo meu rosto.

  - Eu sei que vai – diz fechando os olhos

  Eu pego a espada, coloco na bainha e subo a colina arrastando-a no chão. No topo da colina eu olho para trás e digo:

  - Eu juro pelo Estige que jamais pisarei em solo romano.

  Começo a descer a colina em direção a uma casa azul e branca. Ao pé da escada da varanda havia um centauro conversando em uma lingua estranha com um garoto de provavelmente 13 anos com cabelo desgrenhado e alaranjado puxado para o loiro e olhos cinza-tempestade, usava uma camisa laranja e calça jeans, quando ele me viu fez uma cara estranha, como se dissesse: ”porque está usando essa roupa?”.

  O centauro olhou para trás e depois disse algo para o garoto, que entrou na casa. Virou para mim e perguntou algo na lingua estranha.

  - Não entendo o que diz – ele franziu a testa ao ouvir um grego antigo tão fluente.

  - Qual é o seu nome, criança? – perguntou em grego antigo, sua voz era calma.

  - Liliana – respondi.

  - Eu sou Quíron – disse ele – como chegou até aqui?

  - Khíron, o centauro que treinou Herakles? Legal! – disse e depois contei tudo o que tinha acontecido desde a saída da Grécia.

  Ele ouvia tudo com a mesma expressão no rosto e quando eu terminei ele perguntou:

  - Sabe quando você nasceu?

  Uma voz doce, mas decidida dizia na minha cabeça: “13 de março de 152 AC.”.

  - Acho que 13 de março de 152 AC. O que eu sei é que foi uma semana antes do equinócio de primavera e eu sai de Esparta porque, segundo meu pai, homens ruins estavam chegando.

  O rosto dele ficou tenso.

  - você disseque ficou algum tempo no território dos lotofagos, não foi?

  - Foi – respondi franzindo a testa – você sabe quanto tempo foi?

  - para ser exato... – ele parou, provavelmente pensando se deveria falar –... 2160 anos – concluiu ele.

  “Isso é muito tempo” – disse a Nice e eu automaticamente respondi:

  - Muito.

  - Como? – perguntou ele

  - Ah... Eu falei com a Nice – disse apontando para a coruja no parapeito da varanda.

  - Claro, a coruja – disse olhando para a Nice e depois chamou o garoto que tinha entrado na casa e conversou com ele no idioma estranho. – Esse é o Nicolas, ele é conselheiro chefe do chalé de Atena, vai lhe mostrar o acampamento e ajudar com o inglês.

  Depois de me mostrar o acampamento enquanto me dava aula de inglês, fomos até a fogueira. Uma coruja azul surge em cima da minha cabeça e mais tarde fui levada até o chalé 6 onde me deram uma beliche.

  Ouço uma corneta de concha ao longe e acordo, Annabeth estava ao meu lado calçando o tênis.

  - Vamos nos atrasar para o café – disse ela.

  - Me visto em um segundo – disse levantando.

  - Esta fazendo aquilo de novo

  - Isso sempre acontece quando tenho aquele sonho e já faz 7 anos.

  - E ainda mistura tudo quando fala.

  - É. Vamos tomar café – digo calçando o tênis.

  Naquele mesmo dia um novo semi-deus chegou ao acampamento meio-sangue. Ele tinha olhos verde-mar e cabelos mais negros do que a noite, seu nome era Perseu Jackson, mas usava o apelido impronunciável: Percy.