Capitulo 11 – Meu nada calmo, primeiro dia de aula

19/10/2014 17:06

14 anos – 10º ano – inverno

 

  Meu primeiro dia de aula não foi algo que possa ser considerado tranquilo. Eu estava usando uma calça jeans surrada, camisa azul-celeste, jaqueta de couro preta, all star cinza de cano alto por cima da calça, os brincos que lembravam folhas de oliveira (o Nick havia me dado de presente no aniversário de 7 anos), o colar de contas do acampamento, o anel de prata que minha mãe tinha me dado e relógio de bronze celestial e tira de couro que virava um escudo e uma besta; meu cabelo estava preso em uma trança grega e eu segurava uma mochila jeans no ombro direito.

  O diretor, Sr. Crawel, designou o filho dele – Jim Crawel – para me mostrar a escola e me levar até os dormitórios, onde eu seria levada até o meu quarto pela inspetora do dormitórios femininos.

  O garoto era loiro com olhos cinza, tinha 15 anos e 1,70 m de altura; tinha dislexia e hiperatividade, o que significava que ele não ia parar de falar.

  - Oi, eu sou Jim – disse ele – nós temos a mesma cor de olhos, legal né? – ele usava calça jeans escura, camisa preta, gorro azul cobalto e all star vermelho – Você é? – perguntou ao perceber que não sabia meu nome.

  - Liliana Kallas – disse tentando esconder meu sotaque grego

  - Ah... a garota espartana – disse olhando para minha jaqueta de couro preta – jaqueta legal.

  - você tem hiperatividade, não tem?

  - Tenho – disse ele chateado – isso é muito ruim, eu não consigo parar de falar e tenho dislexia também – disse olhando para o corredor atrás de mim – vem, vou te mostrar a escola.

  Ele me mostrou tudo, literalmente, até as maquinas de comida ele mostrou. Fomos por um corredor de salas até o laboratório, onde o professor de biologia dissecava uma aranha, quando eu vi a aranha senti um arrepio na nuca que se espalhou pelo corpo todo, o Jim se encolheu e continuou andando.

  - Vamos em frente, não quero ficar perto de aranhas – disse ele desconfortável.

  Passamos por um zelador, que nos olhou de cara fechada e eu tive a impressão de ver alguma coisa cheia de espinhos atrás dele. O garoto continuava descrevendo tudo que estávamos vendo, como um guia turístico. Chegamos à quadra poliesportiva, onde estavam todos os outros alunos se organizando nas arquibancadas, os professores e o coordenador estavam em um palco improvisado no centro da quadra.

  - Chegamos bem na hora – disse ele se misturando na multidão e eu o segui – vamos nos sentar aqui - disse sentando em uma parte vazia da arquibancada – eles vão dar as boas-vindas aos alunos, apresentar os novos projetos e blá, blá, blá... – disse ele mexendo a mão como se fosse uma boca.

  - Ótimo, não vou ouvir nem metade do que falarem mesmo – disse em grego enquanto me sentava.

  - Também acho um saco, mas meu pai acha que isso é necessário.

  - Você entendeu o que eu disse? – perguntei franzindo a testa

  - Às vezes eu entendo melhor o grego do que o inglês, isso é estranho. – disse dando os ombros.

  Um alerta começou a soar na minha cabeça: “Semi-deus... semi-deus... semi-deus...”. Uma garota de cabelo negro com uma mecha azul para cada lado e olhos âmbar se sentou ao meu lado e me chamou.

  - Liliana? – sua voz parecia musica, mas estava surpresa.

  Olhei para ela e respondi:

  - Lya – minha voz soou como um “quantos semi-deuses tem aqui afinal”

  Ela era filha de Apolo.

  - Vocês se conhecem? – perguntou o Jim.

  - Nós somos... Ah... – disse a Lya

  - Primas – respondi.

  - Legal! – disse ele – de que parte da família?

  - O meu pai é irmão da mãe dela – disse a Lya.

  O coordenador falou no microfone:

  - Crianças! Silencio por favor, sei que é difícil, já que a maioria de vocês tem hiperatividade ou déficit de atenção! Mas façam um minuto de silencio, por favor – disse ele levantando as mãos para chamar atenção de todos – Obrigado! – disse ele quando todos ficaram quietos – Bem-vindos! Esse ano teremos uma nova aula obrigatória para os alunos do ensino médio.

  Todos os alunos a minha volta reclamaram em coro: “Aaaaaaaaaaaah!”.

  - Latim – continuou ele e uma meia dúzia de alunos disse “oba”.

  Depois de um longo discurso de todos os professores, o Jim me guiou até os dormitórios, onde havia uma mulher de aproximadamente 30 anos, olhos castanhos e cabelo negro.

  - Aluna nova, certo? – perguntou ela

  - Liliana Kallas – disse o Jim

  - Vejamos... – disse ela olhando para uma folha colada na parede – tem uma cama no quarto 6, sua colega de quarto é Alice Gasparetto.

  “Quarto 6, sério?” – pensei.

  Ela me levou até o quarto, onde eu esvaziei minha mochila e coloquei em uma gaveta embaixo da cama, eu tinha levado pouca coisa, então arrumei rápido e sai. Fui até um dos banheiros do dormitório, estava vazio, então abri a torneira da pia e tirei uma dracma do bolso, a luz que entrava pela janela de ventilação era suficiente para fazer um arco-íris. Joguei a moeda na água.

  - Ó lady Íris, aceite minha oferenda – uma névoa fina surgiu – Quíron, acampamento meio-sangue – a névoa tremeluziu o Quíron apareceu perto da casa grande – Oi Quíron.

  - Liliana, o que houve?

  - Tenho 99,9% de certeza de que encontrei um semi-deus – disse a ele e depois descrevi o Jim – pensei que talvez você pudesse mandar um sátiro pra cá.

  - Vou ver o que posso fazer – sua voz era calma – Talvez o Bill ou o Fred.

  - Obrigada Quíron – disse pouco antes de ele remexer a névoa.

  Feche a torneira e quando me virei havia uma garota sorrindo sombriamente para mim, suas unhas eram enormes e seus olhos levemente vermelhos.

  - Uma filha de Atena um tanto imprudente – disse enquanto suas presas cresciam e pulou na minha direção.

  Tentei desembainhar minha adaga, mas ela não estava ali, então eu me joguei para o lado deixando a empousa ir de encontro a pia, não ajudou muito, mas ganhei tempo para abrir o escudo.

  - Anoikthe – o escudo se abriu.

  Eu tirei-o do braço lançando-o na direção dela no exato momento em que ela se virava para me atacar novamente. O escudo atravessou a cintura dela na diagonal e se prendeu na parede enquanto ela virava pó.

  Fui até o escudo, coloquei o braço num dos encaixes de couro e fechei a mão envolta do outro. Tentei puxar, mas ele não saiu do lugar, então coloquei o pé direito na parede e dei impulso para trás, o escudo se soltou e eu quase cai no chão, me ajeitei e toquei no escudo.

  - Konta – ele se fechou no exato momento em que uma garota entrou no banheiro.

  Ela só me viu olhando para o estrago que eu tinha feito na parede e perguntou o que tinha sido aquilo. Ela tinha olhos verde-oliva, cabelo loiro e liso na altura do ombro e aparentemente 15 anos.

  - Não sei – respondi.

  - Alice Gaspatertto – disse sorrindo – tem certeza que não sabe o que aconteceu?

  - Tenho, quando cheguei já estava assim – menti – Liliana Kallas.

  - Ah... Você é a minha nova colega de quarto.

  Saímos do banheiro e ficamos conversando enquanto íamos para o prédio das salas.


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